quinta-feira, 23 de junho de 2011

Corpus Christi - A Eucaristia como Sacramento de comunhão


Um outro nível de comunhão, exigido pela Eucaristia, é o da comunhão na mesma doutrina recebida dos Apóstolos e a comunhão com os legítimos pastores da Igreja, de modo particular com o Bispo de Roma, sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele. A quebra dos vínculos visíveis de comunhão torna impossível a comunhão no mesmo Corpo eucarístico do Senhor. A este propósito, assim se exprime o Santo Padre: “A Eucaristia, como suprema manifestação sacramental da comunhão na Igreja, exige, para ser celebrada, um contexto de integridade dos laços, inclusive externos, de comunhão. De modo especial, sendo ela como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos requer que sejam reais os laços de comunhão nos sacramentos, particularmente no Batismo e na Ordem sacerdotal. Não é possível dar a comunhão a uma pessoa que não esteja batizada ou que rejeite a verdade integral de fé sobre o mistério eucarístico. Cristo é a verdade, e dá testemunho da verdade (cf. Jo 14,6; 18,37); o sacramento do seu Corpo e Sangue não consente ficções” (Ecclesia de Eucharistia, 38). Já no longínquo século I, Santo Inácio de Antioquia dizia: Vós vos reunis numa única fé e em Jesus Cristo, ao partirdes um único pão, que é remédio de imortalidade”. Para São João Crisóstomo, “esta é a unidade da fé: quando todos formamos uma só coisa, quando todos juntos reconhecemos o que nos une”. A unidade da fé recebida no Batismo é o pressuposto para sermos admitidos na unidade da divina Eucaristia, porque através dela entramos em comunhão com Aquele que acreditamos ser consubstancial ao Pai, segundo a fé que temos nele. Como se poderia, portanto, comungar Cristo juntamente com pessoas que sobre ele têm um credo diferente? Tornar-nos-íamos réus do Corpo e Sangue do Senhor (cf. 1Cor 11,27). A Igreja, que é mãe, sente dor e amor por todos os homens, pelos não crentes, os catecúmenos, os que andam longe da fé, mas não tem o poder de dar a comunhão aos não batizados, nem aos que não professam a fé católica e apostólica bem como aos que se encontram objetivamente numa situação contrária à moral cristã. Recebendo o único Pão, entramos nesta única vida em Cristo e entre nós e tornamo-nos assim um único Corpo do Senhor. Fruto da Eucaristia é a união dos cristãos, antes dispersos, na unidade do único Pão e do único corpo eclesial. É por esse mesmo motivo, que a comunhão eucarística só pode ser recebida na unidade com toda a Igreja, superando toda a separação religiosa ou moral.
É preciso ainda dizer com toda franqueza que não vale o raciocínio dos que querem que nossos irmãos separados comunguem da nossa Eucaristia, dizendo que nós já temos certa comunhão ou ainda que a Eucaristia ajuda a fazer a comunhão e a superar as divisões. Tudo isso é verdadeiro, mas não é argumentação válida para permitir a intercomunhão. João Paulo II adverte: “A celebração da Eucaristia não pode ser o ponto de partida da comunhão, visando a sua consolidação e perfeição. O sacramento exprime esse vínculo de comunhão quer na dimensão invisível, quer na dimensão visível que implica a comunhão com a doutrina dos Apóstolos, os sacramentos e a ordem hierárquica. A relação íntima entre os elementos invisíveis e os elementos visíveis da comunhão eclesial é constitutiva da Igreja enquanto sacramento de salvação. Somente neste contexto, tem lugar a celebração legítima da Eucaristia e a autêntica participação nela. Por isso, uma exigência intrínseca da Eucaristia é que seja celebrada na comunhão e, concretamente, na integridade dos seus vínculos” (Ecclesia de Eucharistia, 35).
Nos primeiros séculos de difusão do Cristianismo, dava-se a máxima importância ao fato de em cada cidade existir um só bispo e um só altar, como expressão da unidade do único Senhor. Cristo dá-Se na Eucaristia todo inteiro e em todo o lugar e, por isso, em toda a parte onde for celebrada, ela torna presente plenamente o mistério de Cristo e da Igreja como mistério de Comunhão com o Senhor e entre os irmãos, membros do mesmo corpo. De fato, Cristo, que forma em todo o lugar um único corpo com a Igreja, não pode ser recebido na discórdia. Precisamente porque Cristo é inseparado e inseparável dos seus membros, a Eucaristia só tem sentido se celebrada com toda a Igreja e num ambiente de caridade fraterna, de comum profissão da mesma fé católica, de participação ativa de todos e cada membro na vida da comunidade, de cuidado com os fracos e necessitados, de respeito para com os que caíram e estão sofrendo. São exigências da comunhão, exigências da Eucaristia!
Esta Sacramento deve encher os cristãos de saudades: saudade da comunhão íntima com o Senhor na vida de cada dia, saudade da comunhão com os irmãos na comunidade eucarística e com os irmãos que, por toda a terra, formam um só corpo, na comunhão do Corpo de Cristo, saudade dos irmãos que, por um motivo ou outro, não podem comungar eucaristicamente, saudade dos irmãos separados por não estarem conosco na profissão de fé integral, saudade, enfim, de que toda a humanidade possa, um dia, reconhecer a Cristo como Pão que alimenta nosso corpo e nossa alma, o seu Pai como nosso Deus e Pai, o seu Espírito como vida da nossa vida que nos reúne ao redor da mesma Mesa na qual toda a humanidade se reconheça como uma só família.

Corpus Christi - A Eucaristia como presença real de Cristo





O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, ressuscitou, aquele que está à direita de Deus e que intercede por nós (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras em sua Igreja: em sua Palavra, na oração de sua Igreja, lá onde dois ou três estão reunidos em meu nome (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos, em seus sacramentos, dos quais ele é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do ministro. Mas sobretudo está presente sob as espécies eucarísticas (n. 1373).
            É verdade que o Senhor Jesus, na força do seu Espírito, está presente de modos variadíssimos na sua Igreja, mas, sobretudo, de um modo eminente, ele se faz presente no pão e no vinho consagrados na Eucaristia. Ali, já não está presente simplesmente a graça do Cristo, mas, pessoalmente, o próprio Autor da graça! Ele, que na Última Ceia se entregou no pão e no vinho, dizendo “isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue”, é aquele mesmo que havia antes prevenido de modo solene: “Em verdade, em verdade, vos digo: ‘Aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida! A minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente uma bebida” (Jo 6,47s.55). Sendo assim, se em todos os sacramentos, Jesus Cristo atua através de sinais sensíveis que, sem mudarem de natureza, adquirem uma capacidade transitória de santificação, na Eucaristia, ele está presente com o seu corpo e sangue, alma e divindade, dando ao homem toda a sua pessoa e a sua vida, tudo quanto viveu entre nós amorosamente, até o extremo da entrega na cruz. Tudo isso está presente no pão e no vinho consagrados.
A Igreja sempre acreditou nesta maravilhosa realidade e insondável mistério da presença real do Senhor Jesus. Com a transformação ocorrida na consagração das espécies eucarísticas, o Senhor torna-se presente no seu Corpo e Sangue. Os Santos Padres, doutores da Igreja Antiga, para exprimir a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue do Senhor, falavam de “metabolismo” do pão e do vinho em corpo e sangue. São Tomás de Aquino recordava que a Eucaristia é o sacramento da presença de Cristo. Isso a distingue dos outros sacramentos. O Santo Doutor dizia que ela “re-presenta” Cristo, no sentido de tornar Cristo realmente presente, já que a Eucaristia não é uma devota recordação, mas a presença efetiva, real, verdadeira e eficaz do Senhor morto e ressuscitado, que quer atingir todos os homens. E ele explicava ainda que o significado do Sacramento é tríplice: “O primeiro diz respeito ao passado, enquanto comemora a paixão do Senhor, que foi um verdadeiro sacrifício... Por isso, é chamado sacrifício. O segundo diz respeito ao efeito presente, ou seja, à unidade da Igreja, em que os homens são reunidos por meio deste Sacramento. O terceiro significado diz respeito ao futuro: pois este Sacramento é prefigurativo da bem-aventurança divina, que se realizará na pátria”. Também São Boaventura contribuiu para a teologia da Eucaristia, insistindo no espírito de piedade necessário para comungar Cristo. Recorda-nos ele que, na Eucaristia, além das palavras da Última Ceia, realiza-se a promessa do Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Portanto, no Sacramento, Ele está real e verdadeiramente presente na Igreja.
Foi o Concílio de Trento que, como Magistério da Igreja, melhor exprimiu esta presença real do Senhor. O Concílio insistiu na presença verdadeira, real e substancial do Senhor Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sob as espécies do pão e do vinho. Afirmou, do mesmo modo, que o Corpo do Senhor está presente não só no pão, mas também no vinho, e que o seu Sangue está presente não só no vinho, mas também no pão. Em outras palavras: Jesus não está parte no vinho e parte no pão, mas se encontra real e perfeitamente todo no vinho e todo no pão. Explicou também que, em ambas as espécies, o Senhor Jesus Cristo está presente com a sua alma humana e com a sua divindade. Portanto, Cristo, Verbo do Pai, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está presente todo inteiro sob as duas espécies e em cada parte delas. O mesmo Concílio definiu ainda a “transubstanciação”, isto é a mudança real da substância do pão no Corpo de Cristo e da substância do vinho no seu divino Sangue. Na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, o Santo Padre recorda: A reprodução sacramental na Santa Missa do sacrifício de Cristo coroado pela sua ressurreição implica uma presença muito especial, chama-se ‘real’, não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem ‘reais’, mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem. Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de Trento: ‘Pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação’. Verdadeiramente a Eucaristia é mistério de fé, mistério que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceita pela fé, como lembram frequentemente as catequeses patrísticas sobre este sacramento divino. ‘Não hás de ver – exorta São Cirilo de Jerusalém – o pão e o vinho [consagrados] simplesmente como elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que são o seu corpo e o seu sangue: a fé o assegura a ti, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa” (n. 15). Assim, segundo a fé católica, recebida dos apóstolos e conservada fielmente na Igreja de Cristo, a presença eucarística do Senhor Jesus morto e ressuscitado começa no momento da consagração e dura também enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Em outras palavras, enquanto houver o pão e o vinho consagrados, há realmente Corpo e Sangue do Senhor. O Papa João Paulo II, citando Paulo VI, afirmou claramente na sua Encíclica eucarística: “Permanece o limite apontado por Paulo VI: ‘Toda a explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade objetiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que a partir desse momento são o Corpo e o Sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho’” (Ecclesia de Eucharistia, 15). Portanto, não basta afirmar que Cristo está no pão ou está no vinho; é necessário afirmar que Cristo é o pão e Cristo é o vinho e naquelas espécies consagradas nada há que não seja o Cristo Senhor, morto e ressuscitado. Imenso mistério! Mistério de amor! Mysterium fidei – mistério da fé!
Pode-se perguntar o motivo de o Senhor dar-se assim, tão realisticamente, no pão e no vinho. Apontemos algumas razões: (1) A nossa união real e íntima com ele que, na comunhão, não somente está conosco, mas também em nós, fazendo com que nós estejamos nele. (2) A edificação da Igreja, já que comungando todos do mesmo Corpo e Sangue do Senhor, tornamo-nos nele cada vez mais um só corpo, que é a Igreja, segundo a palavra do Apóstolo: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos deste único pão” (1Cor 10,16). Esta unidade não é simplesmente simbólica ou sentimental, mas real, pois é unidade no Corpo do Senhor, pleno do Espírito Santo. (3) A nossa divinização, pois, recebendo o Corpo e Sangue do Senhor, recebemos a própria vida divina, alimentando-nos com o próprio Cristo ressuscitado pleno do Espírito Santo que dá vida: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que come de mim viverá por mim” (Jo 6,56s). (4) Finalmente, comungando do corpo e sangue daquele que morreu e ressuscitou, recebemos como alimento a própria vida eterna, vida de ressurreição: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,54.58c).
Diante de tal dom, nossa resposta é não somente a fé agradecida, mas também a viva sede da comunhão freqüente e da adoração piedosa. São João Crisóstomo afirmava: “Quando estás para abeirar-te da sagrada mesa, acredita que nela está presente o Senhor de todos”. Por isso, a adoração é inseparável da comunhão. Neste sentido, a Igreja desde tempos remotos, recomenda aos seus filhos que se detenham freqüentemente em adoração ao Senhor sacramentado. O Papa quis renovar essa recomendação: O culto prestado à Eucaristia fora da missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa – presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão do vinho – resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. Compete aos Pastores, inclusive pelo testemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas. É bom demorar-se com ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13,25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela arte da oração, como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio! Desta prática, muitas vezes louvada e recomendada pelo Magistério, deram-nos o exemplo numerosos Santos. De modo particular, distinguiu-se nisto Santo Afonso Maria de Ligório, que escrevia: ‘A devoção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós’. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor o rosto de Cristo... não pode deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor” (Ecclesia de Eucharistia, 15).
Portanto, não tenhamos dúvidas: se as espécies eucarísticas destinam-se primeiramente a serem consumidas em comunhão fraterna durante a celebração da Santa Missa, também podem e devem ser adoradas não somente no momento mesmo da consagração – quando devemos todos nos ajoelhar de modo reverente a adorante -, mas também fora da missa, em adoração pessoal ou comunitária. Estas são as constantes consciência e doutrina da Igreja, da qual nenhum católico deve duvidar.

Corpus Christi - A Eucaristia como banquete escatológico


Se é certo que a Eucaristia é verdadeiramente o sacrifício de Cristo, não o é menos que tal sacrifício foi entregue à Igreja sob a forma de um banquete: “A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós” (Catecismo, 1382). Assim, a Eucaristia é também banquete: o Altar do sacrifício é também a Mesa sagrada da refeição e da comunhão com o Senhor e os irmãos! Diz o Santo Padre João Paulo: A Eucaristia é verdadeiro banquete, onde Cristo se oferece como alimento. A primeira vez que Jesus anunciou este alimento, os ouvintes ficaram perplexos e desorientados, obrigando o Mestre a insistir na dimensão real das suas palavras: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós’ (Jo 6, 53). Não se trata de alimento em sentido metafórico, mas ‘a minha carne é, em verdade, uma comida, e o meu sangue é, em verdade, uma bebida’ (Jo 6, 55)” (Ecclesia de Eucharistia, 16). Por isso mesmo, dá-se também à Eucaristia o nome de Ceia do Senhor (cf. 1Cor 11,20), já que este sacramento é a celebração daquela Ceia que Jesus comeu com os seus discípulos na véspera da Páscoa. Tal Ceia era já a celebração ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que Jesus iria realizar no dia seguinte: ele se entregaria totalmente na cruz, dando-nos seu Corpo e seu Sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será entregue na cruz! Bebei: isto é o meu sangue que será derramado por vossa causa!” Esta Ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava misteriosamente a Ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu vos digo que já não mais a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,15-16). O Apocalipse, fazendo eco às palavras do Senhor, proclama: “Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição, mas também já antecipar e saborear, na força do Espírito Santo, a Ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento eterno para sua Esposa. Em outras palavras: é uma ceia que começa na terra e durará no céu, por toda a eternidade! Assim canta a liturgia: “Ó sagrado Banquete, em que de Cristo nos alimentamos. Celebra-se o memorial de sua Paixão, o espírito é repleto de graça e se nos dá o penhor da glória”. Neste mesmo sentido, o Papa João Paulo afirma: A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho” (Ecclesia de Eucharistia, 19.)
No Antigo Testamento, além dos holocaustos (figuras do sacrifício que Cristo ofereceu e se torna presente em cada Eucaristia), conhecia-se também os sacrifícios de comunhão: neles se oferecia uma parte da vítima no altar e a outra parte era consumida num banquete pelos fiéis na presença do Senhor, significando que o Senhor e o fiel comiam da mesma comida, de modo que o homem comia à mesa de Deus, a criatura participava da vida do Criador, pois, para os orientais, comer à mesma mesa significa participar da mesma vida, da mesma sorte, significa ser amigos (cf. Lv 7,11-21; 22,29-30). Tudo isto era preparação para a comunhão que o Senhor queria estabelecer conosco, uma comunhão inimaginável, estupenda: ele próprio daria seu Filho, morto e ressuscitado, pleno do Espírito Santo, como nosso alimento, como vida de nossa vida! Então, participar do banquete eucarístico é participar da Vida que o próprio Deus entregou ao seu Filho ao ressuscitá-lo dos mortos: “Deus nos deu a Vida eterna e esta Vida está em seu Filho! Quem tem o Filho, tem a Vida” (1Jo 5,11). É por isso que Jesus disse claramente: “Em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Eis, que mistério tão grande e tão santo: participar do Pão e do Vinho eucarísticos é entrar em comunhão de Vida com Aquele que é Morto e Ressuscitado, com o Cordeiro eternamente imolado por nós! Participar das Espécies eucarísticas, das Coisas santas, é receber a própria Vida, aquela que Jesus recebeu na sua ressurreição, aquela Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu (cf. 1Jo 1,2). Cada participação na Eucaristia é uma transfusão de vida eterna que recebemos, até que a consumemos na Glória!
Comungar no Corpo e no Sangue do Senhor, Cabeça da Igreja, é também entrar em comunhão com os irmãos que formam a Igreja. Nós somos “con-corpóreos” e “con-sangüíneos” uns dos outros porque todos temos um só corpo (o Corpo de Cristo) e temos um só sangue (o Sangue de Cristo). Somos irmãos carnais, irmãos de sangue, irmãos eucarísticos: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s). No Banquete eucarístico acontece a comunhão entre nós e Cristo e, por ele, a comunhão entre nós, no único Espírito Santo de Cristo ressuscitado. Santo Agostinho afirmava: “Se sois o corpo e os membros de Cristo, é o vosso sacramento que é colocado sobre a mesa do Senhor; recebeis o vosso sacramento. Respondeis ‘Amém’ àquilo que recebeis, e confirmais ao responder. Ouvis esta palavra: ‘O Corpo de Cristo’, e respondeis: ‘Amém’. Sede, pois, um membro de Cristo, para que o vosso Amém seja verdadeiro”. Assim, o Pão e o Vinho eucarísticos, que foram cristificados pela ação do Espírito do Ressuscitado, edificam a Igreja: neste santo Banquete nos tornamos sempre mais Corpo do Senhor, Igreja do Senhor: “Olhai com bondade a oferenda da vossa Igreja, reconhecei o sacrifício que nos reconcilia convosco e concedei que, alimentando-nos com o Corpo e Sangue do vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração Eucarística III). Ora, é o Espírito do Cristo morto e ressuscitado recebido em comunhão, que nos faz ser um só corpo e um só espírito, que é a Igreja. Assim se exprimia Santo Efrém: “(Cristo) chamou o pão seu Corpo vivo, encheu-o de si próprio e do seu Espírito. E aquele que o come com fé, come Fogo e Espírito. Tomai e comei-o todos; e, com ele, comei o Espírito Santo. De fato, é verdadeiramente o meu Corpo, e quem o come viverá eternamente”. Por tudo isso, a participação no Banquete eucarístico nos compromete profundamente com a vida da Igreja, de modo que quem não quer viver como Igreja-comunidade não pode participar da Eucaristia, que é “sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade”, mais forte que todo pecado, todo isolamento e toda divisão.
Além do mais, a participação e comunhão nas mesmas espécies eucarísticas, Corpo e Sangue do Senhor, compromete-nos, na caridade de Cristo, com os irmãos carentes e sofredores, sobretudo com os pobres. São João Crisóstomo ensinava assim: “Degustaste o Sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria Mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta Mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta Mesa. E tu, nem mesmo assim, te tornaste mais misericordioso”.
Por tudo isso, é absolutamente incompreensível que alguém participe da Missa sem comungar! O sacrifício eucarístico tende para esta comunhão entre nós e o Cristo, que se consuma quando comungamos! Somente por razões gravíssimas devemos nos abster da comunhão. Caso contrário, temos a obrigação de amor e de sede de vida de procurar o sacramento da Penitência e nos reconciliar com Cristo e a Igreja, de modo a participar plenamente do Banquete eucarístico! Certamente, há casos em que o mais aconselhável é não receber a comunhão... Mas aí não é por desleixo ou descaso, mas por coerência e coragem de quem é maduro para assumir que está em alguma situação particularmente problemática em relação ao Evangelho. É o caso, por exemplo, dos que estão unidos em segunda união já sendo casados sacramentalmente e o primeiro cônjuge ainda esteja vivo. Nesses casos, o Senhor também vem a esses irmãos e para eles, pois conhece a sua história e vê o seu coração. É preciso recordar que, se a Igreja está ligada aos sacramentos, o Senhor não está: ele é o Senhor dos sacramentos e pode vir com sua graça de modo desconhecido e inesperado para nós. É bom recordar também que aqui não se trata de julgar os outros ou dizer que alguém não é digno de comungar! Quem de nós é digno? Quem ousaria pensar-se digno do Senhor? A Igreja, ao invés, nos ensina a dizer, antes de cada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada!” A regra, no entanto, é clara: o quanto possível, comungar sempre, em cada Eucaristia da qual participarmos!
Terminemos com as palavras da Liturgia de São João Crisóstomo: “Ó Filho de Deus, faz-me hoje participante do teu místico Banquete. Não entregarei o teu Mistério aos teus inimigos nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu te digo: Recorda-te de mim, Senhor, quando estiveres no teu Reino!”

Corpus Christi - A Eucaristia como sacrifício


Assim diz o Catecismo da Igreja: “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a Páscoa de Cristo, e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nossa Páscoa foi imolado, efetua-se a obra da nossa redenção. Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical a Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: ‘Isto é o meu Corpo que será entregue por vós’, e ‘Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós’ (Lc 22,19s). Na eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que entregou por nós na cruz, o próprio sangue que ‘derramou por muitos para remissão dos pecados’ (Mt 26,28)” (Catecismo da Igreja Católica, 1365). A Celebração Eucarística é, portanto, memorial, isto é, o tornar-se presente, no aqui e no agora da vida da Igreja e da vida de cada um de nós, daquele único e irrepetível sacrifício que Jesus ofereceu na cruz. “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: ‘É uma só e mesma vítima, é o mesmo que oferece agora pelo ministério dos sacerdotes, que se ofereceu a si mesmo então na cruz. Apenas a maneira de oferecer difere” (Catecismo, 1367).
Assim, a Eucaristia torna presente, “presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício que o Senhor Jesus deu à sua Igreja para que ela o ofereça até que ele venha em sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de sacrifício de louvor, sacrifício espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito ao seu nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o meu nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao meu nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (1,11). Cristo, com seu sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que ele venha, ofereceu este sacrifício, cumprindo a profecia.
Mas, quando a Igreja fala em sacrifício de Cristo, ela não pensa simplesmente no que aconteceu no Calvário. Toda a existência humana de Jesus teve um caráter sacrifical. O Autor da Carta aos Hebreus, falando do Cristo o momento de sua Encarnação, afirma: “Ao entrar no mundo, ele afirmou: ‘Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui, - no rolo do livro está escrito a meu respeito – eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,5). Jesus viveu a toda sua vida entre nós, desde o primeiro momento, no amor, no abandono, na obediência, como uma oferta sacrifical ao Pai para nossa salvação. Toda esta existência sacrifical e sacerdotal chegou ao máximo no sacrifício da cruz. Ali, naquele acontecimento tremendo, verificou-se a palavra da Escritura: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo” (Jo 13,1). Assim sendo, quando celebramos a Eucaristia, é toda esta vida sacrifical, esta vida doada aos irmãos por amor ao Pai, que se torna presente sobre o altar para a nossa salvação. Mais ainda: como esta entrega, consumou-se com a resposta do Pai ao seu Filho, ressuscitando-o dentre os mortos, a Eucaristia é o próprio mistério pascal: no altar, torna-se misteriosamente presente a existência humana de Jesus inteira: seus dias entre nós, sua paixão, morte, sepultura, sua ressurreição e ascensão e até mesmo a certeza da sua vinda gloriosa: “Celebrando, agora, ó Pai, a memória da nossa redenção, anunciamos a morte de Cristo e sua descida entre os mortos, proclamamos a sua ressurreição e ascensão à vossa direita, e, esperando a sua vinda gloriosa, nós vos oferecemos o seu Corpo e Sangue, sacrifício do vosso agrado e salvação do mundo inteiro” (Oração eucarística IV).
Porque é o sacrifício do próprio Cristo, Filho de Deus feito homem, numa total obediência amorosa ao Pai por nós, a Eucaristia é aquele sacrifício perfeito de que falava a profecia de Malaquias 1,11. É o que afirma a própria liturgia : “Por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, e pela força do Espírito Santo, dais vida e santidade a todas as coisas e não cessais de reunir o vosso povo, para que vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr-do-sol, um sacrifício perfeito” (Oração Eucarística III). A Igreja oferece, pois, este santíssimo sacrifício, de eficácia e valor infinitos, pelos vivos e pelos mortos, por crentes e descrentes e até mesmo por toda a criação: “E agora, ó Pai, lembrai-vos de todos pelos quais vos oferecemos este sacrifício: o vosso servo, o Papa, o nosso Bispo, os bispos do mundo inteiro, os presbíteros e todos os ministros, os fiéis que, em torno deste altar, vos oferecem este sacrifício, o povo que vos pertence e todos aqueles que vos procuram de coração sincero” (Oração Eucarística IV). Neste sacrifício perfeito e infinito, a Igreja louva, agradece, suplica, pede perdão, adora e intercede por si e pelo mundo inteiro, tudo isto unida ao próprio Cristo, seu Cabeça e Esposo. Por isso, nenhuma outra celebração se iguala ao sacrifício eucarístico em força, santidade e eficácia.
Celebrar este sacrifício santo nos compromete profundamente, seja pessoalmente seja como Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16). Segundo estas palavras de São Paulo, participar da Eucaristia é participar da vida sacrifical de Jesus, é estar dispostos a fazer de nossa vida uma participação no seu sacrifício, completando em nossa existência o mistério da cruz do Senhor (cf. Cl 1,24). Em cada Eucaristia, com Jesus, oferecemos ao Pai a nossa própria vida. Eis como nossa participação no sacrifício eucarístico nos compromete profundamente. Não poderia participar desse Altar quem não estar disposto a se oferecer cada dia com Cristo e como Cristo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus; este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2).
Pode-se perguntar de que modo um acontecimento ocorrido há dois mil anos pode se tornar presente sobre o Altar. É importante compreender o que significa o “memorial”. Não significa simplesmente recordação ou memória. Nas Escrituras, memorial é dito zikaron e significa tornar presente, por gestos, símbolos e palavras, um fato acontecido no passado uma vez por todas. Uma vez ao ano, os judeus celebravam e celebram ainda hoje a Páscoa, memorial da saída do Egito. Nessa celebração, ele não somente recordam a passagem da escravidão para a liberdade, mas tinham e têm a consciência que, participando da celebração, participam realmente da própria libertação que Deus operara. Tanto isso é verdade que, ainda hoje, aquele que preside à celebração, diz assim: “Em toda geração, cada um deve considerar-se como se tivesse pessoalmente saído do Egito, como está escrito: ‘Explicarás então a teu filho: isto é em memória do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito’. Portanto, é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a quem realizou todos esses milagres por nossos pais e para nós mesmos. Ele nos conduziu da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da desolação a dias festivos, da escuridão a uma grande claridade e do cativeiro à redenção”. E, depois, acrescenta: “Bendito sejas tu, Adonai, nosso Deus, rei do universo, que nos redimiste, libertaste nossos pais do Egito, e nos permitiste viver esta noite para participar do Cordeiro, do pão ázimo e das ervas amargas”. Ora, é exatamente isso que a Eucaristia é: memorial da Páscoa do Senhor Jesus. Quando nós a celebramos, torna-se presente no nosso hoje, na nossa vida, na nossa situação, tudo quanto Jesus fez por nós, que alcança seu cume na sua morte e ressurreição. Deste modo, a Páscoa do Senhor está sempre presente e atuante na nossa vida e, através de Jesus e com Jesus, podemos dizer ao Pai como os judeus dizem: “é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a ti, Adonai, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Então, em cada missa torna-se presente, atuante, o único sacrifício pascal do Senhor, memorial de sua encarnação, de sua vida humana, de sua paixão, morte e ressurreição, de sua ascensão ao Pai e do dom do Espírito que ele nos fez! Resta apenas recordar que tudo isso acontece na força do Espírito Santo, aquele mesmo Espírito eterno no qual Jesus ofereceu-se ao Pai como vítima sem mancha (cf. Hb 9,14). É este Espírito Santo que, transfigurando o pão e o vinho, torna presente sobre o Altar o Cristo morto e ressuscitado, glorioso, mas trazendo eternamente as chagas da paixão, numa oferta eterna, que jamais passará. Diz a Encíclica sobre a Eucaristia: A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. Com efeito, o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício. Já o afirmava em palavras expressivas S. João Crisóstomo: ‘Nós oferecemos sempre o mesmo Cordeiro, e não um hoje e amanhã outro, mas sempre o mesmo. Por este motivo, o sacrifício é sempre um só. [...] Também agora estamos a oferecer a mesma vítima que então foi oferecida e que jamais se exaurirá’. A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. O que se repete é a celebração memorial, a « exposição memorial de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo. Portanto, a natureza sacrifical do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário” (Ecclesia de Eucharistia, 12).
Concluamos com as palavras do Santo Padre: Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e realiza-se também a obra da nossa redenção. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim, cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. Esta é a fé que as gerações cristãs viveram ao longo dos séculos, e que o magistério da Igreja tem continuamente reafirmado com jubilosa gratidão por dom tão inestimável. É esta verdade que desejo recordar mais uma vez, colocando-me convosco, meus queridos irmãos e irmãs, em adoração diante deste Mistério: mistério grande, mistério de misericórdia. Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao “extremo” (cf. Jo 13,1), um amor sem medida” (Ecclesia de Eucharistia, 11).

Corpus Christi - A Eucaristia, comunhão com o Senhor

  +  PAX

Postarei alguns textos de Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju, para auxiliar nossa reflexão nessa Solenidade.
Espero que seja proveitosa!

Fiquem com Deus, sob as bênçãos de NP São Bento!



Ao cair desta tarde, com a oração das primeiras vésperas, a Mãe Igreja iniciou a celebração da Solenidade de Corpus Christi, festa da Eucaristia, proclamação da presença real do Cristo morto e ressuscitado no pão e no vinho consagrados. Tendo em mente o mistério eucarístico, São Paulo pergunta: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16) Tais afirmações, em forma de perguntas e, à primeira vista, tão simples, têm uma força e significação enormes.
Na Escritura Sagrada, o “sangue” não é simplesmente uma realidade material, o líquido vermelho que circula em nossas artérias, mas sobretudo a vida e, muitas vezes, a vida tirada violentamente. Dar o sangue quer dizer dar a vida, vida sofrida, violentada, arrancada de modo cruel. “Sangue de Cristo” significa, portanto, a vida de Jesus dada em sacrifício, tirada de modo violento; a vida que ele deu por nós. “Corpo”, por sua vez, não significa primeiramente os músculos humanos, mas sim o homem todo, a pessoa toda, na sua situação de criatura limitada, frágil, mortal. Assim, “corpo de Cristo” exprime a natureza humana que o Filho de Deus assumiu por nós de Maria, a Virgem: “O Verbo se fez carne” (Jo 1,14), quer, então, dizer, fez-se homem, fez-se realmente humano, com um corpo humano e uma alma humana, com inteligência, vontade, consciência, afeto, sentimentos e liberdade humanos. Então, dar o corpo significa dar-se todo, dar toda sua vida humana: seus sonhos, cansaços, desilusões, sofrimentos... Dar tudo quanto a pessoa é! Foi assim que Jesus se nos deu: em todo o seu ser, sem reservas; doou-nos sua vida e sua morte!
Pois bem, o Apóstolo afirma que o pão que partimos é comunhão com o corpo do Senhor. Palavra estupenda! Comungar na eucaristia significa entrar numa comunhão misteriosa e real com a pessoa mesma de Jesus; mas não uma pessoa desencarnada: é entrar em comunhão com tudo quanto ele viveu, experimentou em sua existência humana; é ter comunhão com os ideais de Jesus, com o modo de viver e agir de Jesus, com as opções, esperanças e angústias de Jesus, com o sofrimento de Jesus, com a morte e sepultura de Jesus, com a ressurreição e glorificação de Jesus! Comungar daquele pão é comungar com Jesus na totalidade da sua existência, é colocá-lo na nossa existência, não mais viver por nós mesmos, sozinhos conosco, do nosso modo, mas viver nossa vida na vida de Jesus, que por nós morreu e ressuscitou (cf. 2Cor 5,15)!
E o cálice, São Paulo diz que é comunhão no sangue de Cristo; quer dizer comunhão na sua entrega, na sua morte, morrida por nós! Participar do cálice do Senhor é estar dispostos a beber o cálice com ele, a ser batizados no batismo de morte no qual ele foi batizado (cf. Mc 10,38)! Portanto, participar do pão e do vinho eucarísticos é entrar em comunhão de vida e morte com o Senhor, é “com-viver” com Cristo, é conhecê-lo, conhecer o poder de sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, “com-formando-nos” com ele na sua morte para alcançar a sua ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3,10).
Esta é a experiência central da vida cristã: viver nesta comunhão plena de vida e morte com o Senhor! E aqui, precisamente, cabe alguns urgentes questionamentos... Os cristãos têm consciência disso? Individualmente e como Igreja, temos presente esta nossa misteriosa e estupenda vocação, que é trazer em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo (cf. Fl 4,10). Como os cristãos se comportam diante dos desafios da vida pessoal e comunitária? Estão os cristãos dispostos a viver para o Senhor ou somente para si mesmos, segundo a lógica do mundo contemporâneo? Nossa evangelização tem levado a esta comunhão existencial com o Cristo no mistério da sua vida, morte e ressurreição? Notemos que o que está em jogo aqui é a própria identidade do cristianismo! Sem esta consciência não há, de fato, uma vida cristã! Ser cristão não é primeiramente aderir a doutrinas ou a uma moral mas, antes de tudo, entrar em comunhão com Alguém, com o Senhor Jesus.
Pode-se, então, compreender aquelas palavras de fogo do santo bispo de Antioquia, Inácio, que no século I, ao dirigir-se para o martírio, no qual seria devorado pelas feras, exclamava: “Coisa alguma visível ou invisível me impeça de encontrar Jesus Cristo. Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo. A ele é que procuro, ele que morreu por nós; quero aquele que ressuscitou por nossa causa. Permiti que eu seja imitador do sofrimento do meu Deus! Meu amor está crucificado! Quero o pão de Deus que é a carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue dele, que é amor incorruptível. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Quando lá chegar serei homem!” Palavras estonteantes! Inácio de Antioquia compreendera o que significava celebrar a eucaristia, participar do corpo e sangue do Senhor!
Que nossas eucaristias sejam realmente a celebração sacramental desta comunhão de vida, sonho, agir, morte e ressurreição com o Cristo, cujo Corpo e Sangue comungamos. É disto que o mundo tanto precisa; é isto que o mundo espera, mesmo sem o saber: o nosso testemunho de comunhão com o Salvador! Só assim tem realmente sentido proclamar nossa fé na presença real do Senhor no pão e no vinho eucarísticos.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Datas importantes - por Ir. Michael, obl. OSB

+

Revma. Me. Abadessa,
Estimadas diretoras dos oblatos do Mosteiro de São João,
Caríssimos irmãos oblatos (as), noviços, postulantes e candidatos à Oblação Monástica:
Tomo a liberdade de escrever-lhes estas breves linhas para recordar 3 datas importantes, duas das quais particularmente para nossa Abadia de São João Batista de Campos do Jordão e que pela brevidade de nosso encontro do último domingo podem ter passado desapercebidas por nós.
DIA 24 DE JUNHO: Festa de São João Batista, Patrono Principal de nossa Abadia:

Sempre que me coloco pensando na figura de São João como padroeiro de nosso mosteiro fico imaginando o que devo levar dele para o mundo onde estou; sim, pois o padroeiro do mosteiro também reflete um pouco de sua vocação. E qual seria ela... "preparai os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas" ou ainda: "convertei-vos pois o Reino de Deus está entre vós!".
Deter-me-ei rapidamente nessas duas linhas de pensamento para nós oblatos. Preparar os caminhos do Senhor para nós oblatos e oblatas de São Bento no mundo seria levar o ideal de Cristo e a força que Ele concede a cada um de nós onde quer que estejamos: em casa, em nossa família, em nosso trabalho, em nossas ações na sociedade, com nossos amigos. Devemos simplesmente sermos nós mesmos e através disto levar às pessoas a figura do Cristo com o qual tivemos nosso "encontro pessoal" e que através dos ensinamentos de São Bento buscamos a plenitude em nossas vidas.
"Convertei-vos pois o Reino de Deus está entre vós!". São João Batista apontava para o Cristo: "Eis o Cordeiro de Deus..." assim, também nós, apontamos para Cristo e mostramos que apesar de nossas misérias e fragilidades humanas ele caminha conosco. Em vista disto cremos também que precisamos nos "converter" a cada dia, em cada gesto, em cada nova ação.
Sei que cada um e cada uma pode tirar outras conclusões e reflexões a respeito da figura de São João Batista, porém deixo aqui minha humilde reflexão para partilha com todos vocês.
DIA 1º DE JULHO: Aniversário da Bênção Abacial de Me. Myriam de Castro, OSB


No próximo dia 1º de Julho de 2011, nossa Reverenda Madre Abadessa Myriam de Castro, OSB comemora o 10º aniversário de sua Bênção Abacial quando foi oficialmente empossada como nossa abadessa. Devemos nesta ocasião render graças a Deus pela vida de tão grande pessoa que colocou-se nas mãos de Deus e que mesmo sabendo da sua pequenez e das dificuldades que certamente enfrentaria deu o seu sim generoso para servir e amar, para conduzir tantos outros e outras pelos caminhos de Cristo segundo as trilhas de São Bento e levar adiante o sonho iniciado por Me. Margarida Hertel, OSB e por Me. Dolores Souto Maior, OSB a tantos anos bem antes de sua decisão de entrar para o mosteiro e para a vida religiosa.
São 10 anos como abadessa do Mosteiro de São João onde nossa madre incansavelmente se desdobra para ver espalhar o suave odor do Cristo através de sua doação pela comunidade do mosteiro de São João e também por cada um de nós oblatos e oblatas que também temos nela uma presença de mãe e amiga de todos.

DIA 11 DE JULHO: Solenidade de NP São Bento


Dispensados maiores comentários, nesta data em que pelo calendário litúrgico da Santa Igreja comemoramos a Solenidade de Nosso Pai fundador, coloquemo-nos em união junto a tão grande intercessor e patrono que temos no Céu junto de Deus e peçamos a força dele para podermos continuar nossa caminhada e incessantemente como ele, até mesmo na hora da morte, termos os braços erguidos a Deus em fervorosas súplicas, clamando pela misericórdia e pelo perdão de Deus que é derramado sobre nós a cada dia para que tenhamos força de remarmos "contra a maré" e levarmos adiante a vocação de sermos presença de São Bento no século e na condição de vida que Nosso Senhor propiciou a cada um de nós.
Sei que muitas das vezes é difícil para nós oblatos, oblatas, noviços, postulantes e candidatos à oblação beneditina, em razão de nossos compromissos e responsabilidades pessoais e de trabalho, estarmos no mosteiro e com nossa comunidade monástica nestas datas, mas podemos e devemos um cada uma delas, elevarmos nossos pensamentos a Deus e colocarmo-nos em união de oração e de coração com todas nossas queridas co-irmãs do Mosteiro de São João e agradecermos a Deus por fazermos parte de tão especial e grande família espiritual da qual colhemos todos os dias inúmeras graças que nos são concedidas por Deus pela intercessão desta mesma família que ora por nós, seus oblatos, incansavelmente durante todas as vezes que se colocam no coro para a recitação do Santo Ofício e em especial quando estão reunidas em torno do Altar da Santa Missa.

Sempre unidos no Altar do Senhor,

Ir. Michael, obl. OSB

terça-feira, 14 de junho de 2011

Menção Monástica

No mesmo dia 13 de Junho comemora-se o 4º aniversário da elevação do Mosteiro de São Bento de Pouso Alegre - MG ao grau de Priorado Conventual, por sua Santidade o Papa Bento XVI. Alegria na casa de nossos irmãos monges e oblatos de Pouso Alegre, assim como de toda a Congregação Beneditina do Brasil que os acompanha em suas orações.






Memória Litúrgica de Santo Antônio

SANTO ANTONIO

"Doutor da Igreja", "Martelo dos Hereges", "Doutor Evangélico", "Arca do Testamento" é como os Papas o chamaram. Para o povo fiel, ele protege os pobres, auxilia na busca de coisas e pessoas perdidas, orienta os sentimentos e inspira a vida de oração; afugenta os demônios e a peste; cura os enfermos. Foi franciscano da primeira hora. Conhecido como milagreiro, sua própria vida foi um milagre contínuo.


Nasceu em Lisboa (Portugal), no final do século XI. Foi recebido entre os Cônegos Regulares de Santo Agostinho, mas pouco depois de sua ordenação sacerdotal transferiu-se para a Ordem dos Frades Menores com a intenção de dedicar-se à propagação da fé entre os povos da África. Foi entretanto na França e na Itália que ele exerceu com excelentes frutos o ministério da pregação, convertendo muitos hereges. Foi o primeiro professor de teologia na sua Ordem. Escreveu vários sermões, cheios de doutrina e de unção espiritual. Morreu em Pádua no ano de 1231. Antes de se completar um ano após a morte, o papa Gregório IX lançou-o no cânon dos Santos.

Saiba mais sobre Santo Antônio em uma excelente matéria especial que está no link ao lado. Acesse: http://www.arautos.org/especial/27004/Santo-Antonio.html


A palavra é viva quando são as obras que falam
Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, presbítero
(I.226) (Séc.XII)


Santo Antônio pregando aos peixes. Saiba mais em www.arautos.org/especial/27004/Santo-Antonio.html#ancora5

Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos estas línguas quando os outros as vêem em nós mesmos. A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas. Diz São Gregório: “Há uma lei para o pregador: que faça o que prega”. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras. Os apóstolos, entretanto, falavam conforme o Espírito Santo os inspirava (cf. At 2,4). Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas idéias! Pois há alguns que falam movidos pelo próprio espírito e, usando as palavras dos outros, apresentam-nas como suas, atribuindo-as a si mesmos. Destes e de outros semelhantes, diz o Senhor por meio do profeta Jeremias: Terão de se haver comigo os profetas que roubam um do outro as minhas palavras. Terão de se haver comigo os profetas, diz o Senhor, que usam suas línguas para proferir oráculos. Eis que terão de haver-se comigo os profetas que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, que os contam, e seduzem o meu povo com suas mentiras e seus enganos. Mas eu não os enviei, não lhes dei ordens, e não são de nenhuma utilidade para este povo – oráculo do Senhor (Jr 23,30-32). Falemos, portanto, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe humilde e devotamente que derrame sobre nós a sua graça, a fim de podermos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e na observância do decálogo. Que sejamos repletos de um profundo espírito de contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo que são os louvores divinos. Desse modo, ardentes e iluminados pelos esplendores da santidade, mereceremos ver o Deus Uno e Trino.


domingo, 12 de junho de 2011

Dica

+ PAX

Caros Irmãos, recomendo-lhes que visitem o endereço: www.youtube.com/santaigreja
Não deixem de visitá-lo. Lá encontrarão vários vídeos educativos e para oração!
Com certeza auxiliá-los-á na caminhada.

Fiquem com Deus!

Pentecostes: o Dom do Ressuscitado derramado sobre a Igreja

O tempo pascal conclui-se com a Solenidade de Pentecostes, celebração do Espírito Santo, Dom que o Cristo morto e ressuscitado faz à sua Igreja. Vejamos alguns aspectos do significado profundo deste mistério tão importante da nossa fé. 
O dom do Espírito Santo é fruto da Páscoa de Cristo. Morto como homem, ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo derramado sobre ele (cf. 1Tm 3,16; Rm 1,4). O Espírito torna-se a própria energia divina que sustenta e vivifica a natureza humana de Jesus, de tal modo que São Paulo chega a dizer que o Senhor Jesus é Espírito (cf. 2Cor 3,18). É assim que o Senhor Jesus se torna doador do Espírito Santo:“Exaltado pela Direita de Deus, ele (Jesus) recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,33). 
Este derramamento do Espírito deu-se no próprio dia da ressurreição, “na tarde daquele mesmo dia” (Jo 20,19): Jesus entrou no Cenáculo estando fechadas as portas, soprou sobre os Onze e disse: ‘Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Aqui nasce a Igreja, aqui os apóstolos são batizados no Espírito Santo, tornando-se cristãos, pois receberam aqui a vida nova do Cristo morto e ressuscitado! 
Sendo assim, qual o sentido da festa de Pentecostes? Os judeus celebravam-na cinqüenta dias após a Páscoa para comemorar o dom da Lei que Deus fizera ao povo de Israel. Os israelitas saíram do Egito, atravessaram o Mar e, cinqüenta dias após, chegaram ao pé do Monte Sinai, onde Deus lhes dera a Lei. Como Pentecostes sempre coincidia com o início da colheita, também era considerado a Festa das Primícias. Pois bem: cinqüenta dias após a Páscoa de Jesus, os apóstolos reunidos em Jerusalém, receberam o Espírito de um modo vistoso, barulhento, com fenômenos exteriores. A idéia é muito clara: para o novo povo de Deus, que é a Igreja, a Lei não é mais a Lei dos judeus, mas o Espírito de Amor que Jesus derramou nos nossos corações e que habita em nós (cf. Rm 5,5). O amor que Jesus nos deu como mandamento não é um sentimento, mas é o seu próprio Espírito, no qual unicamente podemos nos amar como ele amou. É este amor que é a plenitude da Lei (cf. Rm 13,8.10). Se olharmos com atenção o texto dos Atos dos Apóstolos que narra a vinda do Espírito, veremos as mesmas características do Monte Sinai: no deserto, dom da Lei acontece no quadro de uma tempestade [“houve trovões, relâmpagos...’ (Ex 19,16)], uma erupção vulcânica [“uma espessa nuvem sobre a montanha, e um clamor muito forte de trombeta... toda a montanha do Sinai fumegava... a sua fumaça subiu como a fumaça de uma fornalha...” (Ex 19,16.18)] e um terremoto [“toda a montanha tremia violentamente” (Ex 19,18)]; no Cenáculo, aparecem os mesmo sinais: ruído, vendaval impetuoso, línguas como de fogo (cf. At 2,2s). a Igreja, fruto da ação do Espírito do Ressuscitado é também primícias da colheita de tudo quanto Cristo realizou na sua páscoa. 
Se procurarmos articular o dom do Espírito no dia mesmo da ressurreição (cf. Jo 20,19) com o dom do Espírito em Pentecostes (cf. At 2), podemos dizer o seguinte: o dom do Espírito em João, no dia da ressurreição, equivale ao nosso batismo, quando recebemos, no símbolo da água, o Espírito de vida do Cristo ressuscitado. Nele, recebemos uma vida nova, que germina até a glória eterna. Já o dom do Espírito em Pentecostes equivale à experiência de cada cristão no sacramento da crisma, quando nos é dado o Espírito de força para o testemunho de Jesus e a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Agora, com a manifestação no Cenáculo, a Igreja abre as portas e começa a sair de si, lançando-se nas estradas do mundo para testemunhar Jesus e construir-se como comunidade dos discípulos daquele que morreu e ressuscitou.
Na solenidade de Pentecostes é isto que celebramos: o dom do Espírito que é dado à Igreja continuamente, na pregação da Palavra e, sobretudo, nos sacramentos, de modo particular no batismo e na eucaristia. Em cada sacramento, a Igreja suplica ao Pai o dom do Espírito do Filho, que a una sempre mais ao Ressuscitado, vá dando-lhe a vida nova que ele, seu Senhor e Esposo, agora tem à direita do Pai e, assim, vá conduzindo-a mais e mais à vida eterna.
Nunca esqueçamos que, sem o Espírito, não há nem pode haver Igreja. Somente nele, a vida do Cristo permanece e é continuamente renovada na Comunidade dos discípulos; somente no Espírito é possível viver em Cristo, fazer o bem por amor de Cristo... Somente no Espírito o Evangelho pode ser anunciado como boa-nova e não como letra morta e preceito exterior e opressor. É no Espírito Santo que a vida do Cristo não somente está no nosso meio, mas em nós, no nosso interior, inspirando-nos para o bem, dando-nos força contra o mal, plasmando em nós os sentimentos de Jesus e nos preparando para a vida eterna. Somente no Espírito a Comunidade pode se manter unida na verdadeira fé e ligada no mesmo amor, sem, contudo, sufocar as diversidades existentes. Só no Espírito, a Igreja pode se lançar para o futuro, sem ter medo das novidades e, ao mesmo tempo, manter-se fiel ao passado de sua origem, sem tornar-se ancrônica ou ultrapassada. É por tudo isso que o Espírito foi chamado pelos Santos Padres da Igreja Antiga de “alma da Igreja”: ele a vivifica, a mantém unida, a faz cresce e a conduz à plenitude. É também por isso que a Igreja é real e verdadeiramente Templo do Espírito Santo, que nela habita e repousa, nela permanecendo até transfigurá-la completamente no final dos tempos, quando, então, ela será plenamente Corpo do Cristo glorioso e povo de Deus Pai, para sempre.


Pentecostes com o Papa



Prezados irmãos e irmãs!

Na solene celebração do Pentecostes, somos enviados a professar a nossa fé na presença e na acção do Espírito Santo e a invocar a sua efusão sobre nós, sobre a Igreja e sobre o mundo inteiro. Portanto, façamos nossa, e com intensidade particular, a invocação da própria Igreja:  Veni, Sancte Spiritus! Uma invocação tão simples e imediata, mas ao mesmo tempo extraordinariamente profunda, que brota em primeiro lugar do Coração de Cristo. Com efeito, o Espírito é o dom que Jesus pediu e pede continuamente ao Pai pelos seus amigos; o primeiro e principal dom que nos obteve com a sua Ressurreição e Ascensão ao Céu.
Desta oração de Cristo fala-nos o trecho evangélico hodierno, que tem como contexto a Última Ceia. O Senhor Jesus disse aos seus discípulos:  "Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E Eu suplicarei ao Pai e Ele dar-vos-á outro Consolador, a fim de permanecer convosco para sempre" (Jo 14, 15-16). Aqui revela-se-nos o Coração orante de Jesus, o seu Coração filial e fraterno. Esta oração alcança o seu ápice e o seu cumprimento na cruz, onde a invocação de Cristo se identifica com o dom total que Ele faz de si mesmo, e deste modo o seu rezar torna-se por assim dizer o próprio selo do seu doar-se em plenitude por amor ao Pai e à humanidade:  invocação e doação do Espírito Santo encontram-se, compenetram-se e tornam-se uma única realidade. "E Eu suplicarei ao Pai e Ele dar-vos-á outro Consolador, a fim de permanecer convosco para sempre". Na realidade, a oração de Jesus – a da Última Ceia e a da cruz – é uma oração que permanece também no Céu, onde Cristo está sentado à direita do Pai. Com efeito, Jesus vive sempre o seu sacerdócio de intercessão a favor do povo de Deus e da humanidade, e portanto reza por todos pedindo ao Pai o dom do Espírito Santo.
A narração do Pentecostes no livro dos Actos dos Apóstolos – ouvimo-lo na primeira leitura – (cf.Act 2, 1-11) apresenta o "novo curso" da obra de Deus, encetado com a ressurreição de Cristo, obra que envolve o homem, a história e o cosmos. Do Filho de Deus morto e ressuscitado, que voltou para o Pai, emana agora sobre a humanidade com energia inédita o sopro divino, o Espírito Santo. E o que produz esta nova e poderosa autocomunicação de Deus? Onde existem lacerações e estraneidades, ela cria unidade e compreensão. Tem início um processo de reunificação entre as partes da família humana, divididas e dispersas; as pessoas, muitas vezes reduzidas a indivíduos em competição ou em conflito entre si, alcançadas pelo Espírito de Cristo, abrem-se à experiência da comunhão, que pode empenhá-las a ponto de fazer delas um novo organismo, um novo sujeito:  a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus:  a unidade; por isso, a unidade é o sinal de reconhecimento, o "cartão de visita" da Igreja no curso da sua história universal. Desde o início, do dia do Pentecostes, ela fala todas as línguas. A Igreja universal precede as Igrejas particulares, as quais devem conformar-se sempre com ela, segundo um critério de unidade e universalidade. A Igreja nunca permanece prisioneira de confins políticos, raciais ou culturais; não se pode confundir com os Estados e nem sequer com as Federações de Estados, porque a sua unidade é de outro tipo e aspira a atravessar todas as fronteiras humanas.
Amados irmãos, disto deriva um critério prático de discernimento para a vida cristã:  quando uma pessoa, ou uma comunidade, se fecha no seu próprio modo de pensar e de agir, é sinal que se afastou do Espírito Santo. O caminho dos cristãos e das Igrejas particulares deve confrontar-se sempre com o da Igreja, una e católica, e harmonizar-se com ele. Isto não significa que a unidade criada pelo Espírito Santo é uma espécie de igualitarismo. Pelo contrário, ela é sobretudo o modelo de Babel, ou seja, a imposição de uma cultura da unidade que poderíamos definir "técnica". Com efeito, a Bíblia diz-nos (cf. Gn 11, 1-9) que em Babel todos falavam uma só língua. Pelo contrário, no Pentecostes os Apóstolos falam línguas diferentes, de modo que cada um compreenda a mensagem no seu próprio idioma. A unidade do Espírito manifesta-se na pluralidade da compreensão. A Igreja é por sua natureza una e múltipla, destinada como está a viver em todas as nações, em todos os povos e nos mais diversificados contextos sociais. Ela responde à sua vocação, de ser sinal e instrumento de unidade de todo o género humano (cf. Lumen gentium1), apenas se permanece autónoma de qualquer Estado e de toda a cultura particular. Sempre e em cada lugar, a Igreja deve ser verdadeiramente católica e universal, a casa de todos, onde cada um se pode encontrar.
A narração dos Actos dos Apóstolos oferece-nos também outra sugestão muito concreta. A universalidade da Igreja é expressa pelo elenco dos povos, segundo a antiga tradição:  "Somos Partas, Médios, Elamitas...", etc. Pode-se observar aqui que São Lucas vai além do número 12, que já expressa sempre uma universalidade. Ele olha além dos horizontes da Ásia e do noroeste da África, e acrescenta outros três elementos:  os "Romanos", ou seja, o mundo ocidental; os "judeus e prosélitos", incluindo de modo novo a unidade entre Israel e o mundo; e enfim "Cretenses e Árabes", que representam Ocidente e Oriente, ilhas e terra firme. Esta abertura de horizontes confirma ulteriormente a novidade de Cristo na dimensão do espaço humano, da história das gentes:  o Espírito Santo envolve homens e povos e, através deles, supera muros e barreiras.
No Pentecostes, o Espírito Santo manifesta-se como fogo. A sua chama desceu sobre os discípulos reunidos, acendeu-se neles e infundiu-lhes o novo ardor de Deus. Realiza-se assim aquilo que o Senhor Jesus tinha predito:  "Vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já tivesse sido ateado!" (Lc 12, 49). Juntamente com os fiéis das diversas comunidades, os Apóstolos levaram esta chama divina até aos extremos confins da Terra; abriram assim um caminho para a humanidade, uma senda luminosa, e colaboraram com Deus que com o seu fogo quer renovar a face da terra. Como é diferente este fogo, daquele das guerras e das bombas! Como é diverso o incêndio de Cristo, propagado pela Igreja, em relação aos que são acendidos pelos ditadores de todas as épocas, também do século passado, que atrás de si deixam terra queimada. O fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, é aquele da sarça que ardia sem se consumir (cf. Êx 3, 2). É uma chama que arde, mas não destrói; aliás, ardendo faz emergir a parte melhor e mais verdadeira do homem, como numa fusão faz sobressair a sua forma interior, a sua vocação à verdade e ao amor. 
Um Padre da Igreja, Orígenes, numa das suas Homilias sobre Jeremias, cita um dito atribuído a Jesus, não contido nas Sagradas Escrituras mas talvez autêntico, que reza assim:  "Quem está comigo está junto do fogo" (Homilia sobre Jeremias l. I [III]). Com efeito, em Cristo habita a plenitude de Deus, que na Bíblia é comparado com o fogo. Há pouco pudemos observar que a chama do Espírito Santo arde mas não queima. E todavia, ela realiza uma transformação, e por isso deve consumir algo no homem, as escórias que o corrompem e o impedem nas suas relações com Deus e com o próximo. Porém, este efeito do fogo divino assusta-nos, temos medo de nos "queimar", preferiríamos permanecer assim como somos. Isto depende do facto que muitas vezes a nossa vida é delineada segundo a lógica do ter, do possuir, e não do doar-se. Muitas pessoas crêem em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo, mas quando se lhes pede que abandonem algo de si mesmas, então elas recuam, têm medo das exigências da fé. Existe o temor de ter que renunciar a algo de bonito, ao que estamos apegados; o temor de que seguir Cristo nos prive da liberdade, de certas experiências, de uma parte de nós mesmos. Por um lado, queremos permanecer com Jesus, segui-lo de perto, e por outro temos medo das consequências que isto comporta.

Caros irmãos e irmãs, temos sempre necessidade de ouvir o Senhor Jesus dizer-nos aquilo que Ele repetia aos seus amigos:  "Não tenhais medo!". Como Simão Pedro e os outros, temos que deixar que a sua presença e a sua graça transformem o nosso coração, sempre sujeito às debilidades humanas. Temos que saber reconhecer que perder algo, aliás, perder-se a si mesmo pelo Deus verdadeiro, o Deus do amor e da vida, é na realidade ganhar, encontrar-se mais plenamente a si próprio. Quem se confia a Jesus experimenta já nesta vida a paz e a alegria do coração, que o mundo não pode dar, e nem sequer pode tirar, uma vez que foi Deus quem no-las concedeu. Portanto, vale a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo! A dor que nos causa é necessária para a nossa transformação. É a realidade da cruz:  não é por acaso que, na linguagem de Jesus, o "fogo" é sobretudo uma representação do mistério da cruz, sem o qual o cristianismo não existe. Por isso, iluminados e confortados por estas palavras de vida, elevemos a nossa invocação:  Vinde, Espírito Santo! Ateai em nós o fogo do vosso amor! Sabemos que esta é uma oração audaz, com a qual pedimos para ser tocados pela chama de Deus; mas sabemos sobretudo que esta chama – e só ela – tem o poder de nos salvar. Para defender a nossa vida, não queremos perder a vida eterna que Deus nos quer conceder. Temos necessidade do fogo do Espírito Santo, porque só o Amor redime. Amém!

Retiro Anual dos Oblatos

Boa tarde, irmãos!
Benedicite.



Quem teve a oportunidade - de ouro - de participar do Retiro Anual dos Oblatos de nosso Mosteiro pode experimentar a escuta da voz de Deus através de alguns versículos do Prólogo da Regra.
Nosso querido Ir. Michael (Fernando) teve o cuidado de postar em seu blog o resumo das atividades além de expor pontos da programação, incluindo as conferências evidentemente, com comentários, traduzindo assim para os que não estiveram presentes um pouco do "sabor" do Retiro. Vale a pena conferir, além de contar com excelentes fotos que compõem a memória visual de nosso encontro de irmãos.


irmaomichael.blogspot.com


Para os que participaram, ler ajuda a refazer as reflexões e aguçar a saudade. Para os que não puderam comparecer, um convite experimentado para a próxima oportunidade.
Fiquem com Deus!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Recado da Ir. Stella Maris, OSB

Resumo da Reunião de Abril/2011

Nossa reunião dos oblatos do Mosteiro de São João deste mês de Abril, dia 17, foi iniciada por Ir. Maria de Fátima que nos propôs uma breve reflexão sobre os salmos 3 e 94, que são recitados no ofício divino e que foi pedido que lêssemos os mesmos na reunião do mês passado para que pudéssemos falar sobre eles nesta oportunidade. Iniciemos então pelo Salmo 3, tradução da Bíblia Ave-Maria:

1.Salmo de Davi, quando fugia de Absalão, seu filho.
2.Senhor, como são numerosos os meus perseguidores!
É uma turba que se dirige contra mim.
3.Uma multidão inteira grita a meu respeito:
Não, não há mais salvação para ele em seu Deus!

4.Mas vós sois, Senhor, para mim um escudo;
vós sois minha glória, vós me levantais a cabeça.
5.Apenas elevei a voz para o Senhor,
ele me responde de sua montanha santa.
6.Eu, que me tinha deitado e adormecido,
levanto-me, porque o Senhor me sustenta.
7.Nada temo diante desta multidão de povo,
que de todos os lados se dirige contra mim.
8.Levantai-vos, Senhor!
Salvai-me, ó meu Deus!
Feris no rosto todos os que me perseguem,
quebrais os dentes dos pecadores.
9.Sim, Senhor, a salvação vem de vós.
Desça a vossa bênção sobre vosso povo.







Ao olharmos mais atentamente para as palavras do salmista vemos alguém que está cercado de inimigos que zombam dele e percebem que nem junto de Deus ele pode salvar-se. Podemos dizer que assim também, por vezes se comporta a nossa vida: nos vemos tão mergulhados em problemas, ciladas e dificuldades que imaginamos que Deus está longe de nós, que nem Ele pode nos socorrer. São os obstáculos da vida, são nossas angústias e aflições quando parece que nem Deus está conosco. (vs. 1-3). Nos versículos 4 e 5 lemos que o auxílio de Deus vem em nosso socorro; é nosso escudo e força protetoras de forma que os problemas e as dificuldades que rondavam até mesmo nosso sono, não é capaz de invadi-lo mais. Reforço mais uma vez aqui que este salmo na primeira parte retrata nossa vida cheia de dificuldades e desafios; na segunda parte deparamo-nos com o auxílio de Deus.

Observemos agora o Salmo 94, tradução da Bíblia Ave-Maria:

1.Vinde, manifestemos nossa alegria ao Senhor,
aclamemos o Rochedo de nossa salvação;
2.apresentemo-nos diante dele com louvores,
e cantemos-lhe alegres cânticos,
3.porque o Senhor é um Deus imenso,
um rei que ultrapassa todos os deuses;
4.nas suas mãos estão as profundezas da terra,
e os cumes das montanhas lhe pertencem.
5.Dele é o mar, ele o criou;
assim como a terra firme, obra de suas mãos.
6.Vinde, inclinemo-nos em adoração,
de joelhos diante do Senhor que nos criou.
7.Ele é nosso Deus;
nós somos o povo de que ele é o pastor,
as ovelhas que as suas mãos conduzem.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
8.Não vos torneis endurecidos como em Meribá,
como no dia de Massá no deserto,
9.onde vossos pais me provocaram e me tentaram,
apesar de terem visto as minhas obras.
10.Durante quarenta anos desgostou-me aquela geração,
e eu disse: É um povo de coração desviado,
que não conhece os meus desígnios.
11.Por isso, jurei na minha cólera:
Não hão de entrar no lugar do meu repouso.

Em diversos momentos de nossa existência não é a nossa boca que deseja proferir palavras para Deus, não é ela quem fala, mas sim, a voz interior de nosso coração é quem grita a Deus. Essa é uma das razões pelas quais o Salmo 94 inicia às vigílias. Nele temos o louvor, a ação de graças e a profecia. Salmo “invitatório”, de convite a louvar o criador de todas as coisas. Nos versículos 4 e 5, se observamos atentamente, notamos que através das palavras do salmista temos formada mentalmente uma cruz: “nas suas mãos estão as profundezas da terra,
e os cumes das montanhas lhe pertencem”. (haste vertical: quando menciona as alturas do céu e as profundezas dos abismos.); “Dele é o mar, ele o criou; assim como a terra firme, obra de suas mãos”. (haste horizontal: a terra e o mar em seus extremos).
Nossa adoração deve ser ao nosso Deus e Senhor, pastor eterno que cuida de nós que somos seu povo e seu rebanho, ovelhas que conduz com sua mão. (vs 6-7). É muito importante também em toda a nossa vida, não nos fecharmos aos apelos de Deus dirigidos a nós, sermos duros e insensíveis quando ouvimos sua voz. (vs. 8-9). Somos a todo o instante convidados à alegria, ação de graças, festa e júbilo. Eis o porquê da escolha por Nosso Pai São Bento do Salmo 94, para que assim, ao iniciarmos cada dia nos coloquemos sob a proteção de Deus e confiemos N’Ele em todas as situações.
No segundo momento de nosso encontro, Ir. Fátima deu continuidade à reflexão sobre o código litúrgico, tema este, iniciado no encontro passado. Em breves palavras recordou-nos os dizeres dos capítulos 8 e 9. Iniciemos agora, a reflexão sobre o Capítulo 10 e seguintes da RB:

CAPÍTULO 10 - Como será celebrado no verão o louvor divino 
[1] De Páscoa até primeiro de novembro, mantenha-se, quanto à salmodia, a mesma medida acima determinada; [2] as lições do livro, porém, por causa da brevidade das noites, não são lidas; em lugar dessas três lições, seja recitada de memória uma do Antigo Testamento, seguida de responsório breve, [3] e cumpram-se todas as outras coisas como ficou dito acima, isto é: que nunca se digam nas Vigílias noturnas, menos de doze salmos além do terceiro e do nonagésimo quarto.

Este capítulo inicia-se novamente mencionando a Páscoa de Nosso Senhor. Até aqui podemos notar que ao longo dos capítulos 8 até o capítulo 13 iremos tratar dos ofícios da noite (vigílias e laudes principalmente). Notadamente observamos a humanidade de São Bento e sua preocupação com a saúde física de seus monges: como as noites eram breves as leituras (e nunca os salmos) eram suprimidas, pois os monges eram obrigados a trabalhar muito durante o forte calor do dia e tinham como dever de ofício, levantar durante a noite para as orações comunitárias. Ainda é reforçado neste mesmo capítulo que não sejam ditos nestes momentos menos de 12 salmos completos além do salmo 3 e 94 já discutidos anteriormente. E poderíamos pensar: “Porque os monges rezavam 12 salmos, nem mais, nem menos, mas 12 salmos?”. A explicação para isto vem de tradição dos monges antigos do deserto e de uma pequena ‘lenda’ ou ‘mito’ transmitido ao longo dos séculos de geração em geração de monges e que foi assim intitulada de “a regra do anjo”. Os monges quando estavam no deserto faziam o seu próprio ritmo de vida, buscavam uma ascese séria e cheia de penitências para assim, vencerem seus “demônios” interiores. Outros monges trabalhavam duro na lavoura. As regras da vida monástica eram as mesmas para os jovens vindo quer da nobreza ou do campo e que se uniam em torno da vida cenobítica. Todos eram (e deveriam) ser tratados da mesma maneira sem distinção, claro, respeitando-se as limitações de cada irmão. Conta a lenda que certa vez, numa dessas discussões entre os monges de quantos salmos deveriam ser recitados ao longo de determinado período, surgiu do meio deles um jovem rapaz que recitou 12 salmos e inexplicavelmente, após isto, sumiu da vista de todos. Os monges ali ficaram convencidos de que era um anjo enviado por Deus para dizer quantos salmos deveriam ser recitados (doze) e acabar de uma vez por todas com a discussão acerca deste assunto. Chamada de “regra do anjo”, certamente foi incorporada por São Bento em sua regra e código litúrgicos por tratar-se de uma ‘lenda’ conhecida pelo Santo Legislador e vista por ele como digna de verdade.
Aqui, assim como em tantas outras partes da Santa Regra notamos que São Bento é misericordioso com seus discípulos assim como Nosso Senhor. Ao pensar no peso do calor do dia, na brevidade da noite para o descanso físico ele quer ‘poupar’ seus discípulos para que não esmoreçam ao peso de seus fardos. Ao mesmo tempo São Bento é prático e objetivo. Vai direto ao assunto. Ao dividir os salmos para cada uma das horas do dia não faz rodeios, simplesmente diz quais salmos serão ditos e pronto. Equilibra as leituras, divide os salmos, tudo para que haja harmonia. Continuemos agora falando um pouco sobre o Capítulo 11 da RB:

CAPÍTULO 11 - Como serão celebradas as Vigílias aos domingos
[1] Aos domingos, levante-se mais cedo para as Vigílias, [2] nas quais se mantenha a mesma medida já referida, isto é: modulados, conforme dispusemos acima, seis salmos e o versículo, e estando todos convenientemente e pela ordem assentados nos bancos, leiam-se no livro, como já mencionamos, quatro lições com seus responsórios; [3] só o quarto responsório é dito por quem está cantando o "Gloria", ao começo do qual se levantem todos com reverência. [4] A essas lições sigam-se, por ordem, outros seis salmos com antífonas, como os anteriores, e o versículo. [5] Terminados esses, voltam-se a ler outras quatro lições com seus responsórios, na mesma ordem que acima. [6] Em seguida, digam-se três cânticos dos Profetas que o Abade determinar, os quais sejam salmodiados com "Aleluia". [7] Dito também o versículo, sejam lidas com a bênção do Abade outras quatro lições do Novo Testamento, na mesma ordem que acima.[8] Depois do quarto responsório o abade entoa o hino "Te Deum laudamus". [9] Uma vez terminado, leia o Abade o Evangelho, permanecendo todos de pé com reverência e temor. [10]Quando essa leitura terminar, respondam todos: "Amém"; e o abade prossegue logo com o hino "Te decet laus", e, dada a bênção, comecem as Matinas. [11] Essa disposição das Vigílias para o domingo deve ser mantida, como está, em todo tempo, tanto no verão quanto no inverno, [12] a não ser que, por acaso, e que tal não aconteça, os monges se levantem mais tarde e se tenha de abreviar algo das lições ou dos responsórios. [13] Haja, porém, todo o cuidado para que isso não venha a suceder; se, porém, acontecer, satisfaça dignamente a Deus no oratório, aquele por cuja culpa veio esse fato a verificar-se.

No capítulo 11, São Bento irá tratar do ofício dominical, a Páscoa semanal da comunidade monástica. Tudo gira então em torno do Cristo Vivo e Ressuscitado. O número dos salmos é aumentado, tudo será realizado de forma mais solene sem encurtar nada. O interessante é notar que, apesar de ser domingo, dia de “descanso”, os monges deverão levantar-se mais cedo que de costume para iniciar o dia; o domingo “Dia do Senhor” é muito importante. É o dia mais importante de todos. Nota-se isto pelos hinos que serão recitados em primeiro lugar. Aqui é importante dizer que, antigamente, nas Vigílias de Domingo o único Evangelho lido e proclamado era o da ressurreição de Nosso Senhor. Depois, com o passar do tempo é que se tomou por costume ler nestas ocasiões, ao invés do Evangelho da Ressurreição, aquele que será dito durante a celebração da missa dominical. Notamos neste capítulo que, durante os dias da semana entre as vigílias e as laudes há um intervalo. No domingo isso não ocorre. Vigilias e Laudes são recitadas juntas, isto porque o domingo é “para o Senhor e tão somente para Ele!”. E é tão importante que realizemos o ofício divino com zelo e cuidado que todo o relaxamento e descuido devem ser banidos. Nos versículos 11 e seguintes notamos toda a seriedade e disciplinas que devem ser observadas nos ofícios, em especial o do domingo, pois ele (o domingo) existe para o louvor a Deus e tão somente a Ele. Todas as outras coisas se tornam secundárias se olhadas por este prisma de reflexão.
Neste ponto, Ir. Fátima explicou a todos o porquê da satisfação que é dada no coro do mosteiro pelas monjas quando ocorre algum tipo de falha durante o recitar do ofício divino. Salientou também que não se trata de uma penitência ou castigo por ter errado, mas sim, um gesto de humildade diante de Deus e da comunidade monástica para que pequenas falhas que podem ser evitadas durante a oração do ofício divino, como atrasos e erros na melodia dos salmos por exemplo, realmente o sejam.

CAPÍTULO 12 - Como será realizada a solenidade das matinas
[1] Nas Matinas de domingo, [2] diga-se em primeiro lugar o salmo sexagésimo sexto, sem antífona, em tom direto. Diga-se, depois, o quinquagésimo, com "Aleluia". [3] Em seguida, o centésimo décimo sétimo e o sexagésimo segundo; [4] seguem-se então os "Benedicite", e os "Laudate", uma lição do Apocalipse de cor, o responsório, o ambrosiano, o versículo, o cântico do Evangelho, a litania, e está terminado.

Chama a atenção neste capítulo a escolha dos salmos, a saber: salmo 66, convite ao louvor e ação de graças a Deus pelos inúmeros benefícios e bênçãos sobre nós derramado; salmo 50, penitencial, porém, profundamente pascal pois demonstra o pecador arrependido que clama o perdão de Deus e se propõe a uma nova vida; salmo 117, novamente ação de graças a Deus; o salmo 66 demonstra a nossa sede do Deus vivo, pelo qual vivemos e existimos. O cântico “Benedicite” é a recordação do louvor à Deus dado por Daniel e seus companheiros na fornalha ardente (Dn 3, 52-90):
52.Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais, digno de louvor e de eterna glória! Que seja bendito o vosso santo nome glorioso, digno do mais alto louvor e de eterna exaltação!
53.Sede bendito no templo de vossa glória santa, digno do mais alto louvor e de eterna glória!
54.Sede bendito por penetrardes com o olhar os abismos, e por estardes sentado sobre os querubins, digno do mais alto louvor e de eterna exaltação!
55 Sede bendito sobre vosso régio trono, digno do mais alto louvor e de eterna exaltação!
56.Sede bendito no firmamento dos céus, digno do mais alto louvor e de eterna glória!
57.Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
58.Céus, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
59.Anjos do Senhor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
60.Águas e tudo o que está sobre os céus, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
61.Todos os poderes do Senhor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
62.Sol e lua, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
63.Estrelas dos céus, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
64.Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
65.Ó vós, todos os ventos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
66.Fogo e calor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
67.Frio e geada, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
68.Orvalhos e gelos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
69.Frios e aragens, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
70.Gelos e neves, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
71.Noites e dias, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
72.Luz e trevas, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
73.Raios e nuvens, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
74.Que a terra bendiga o Senhor, e o louve e o exalte eternamente!
75.Montes e colinas, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
76.Tudo o que germina na terra, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
77.Mares e rios, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
78.Fontes, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
79.Monstros e animais que vivem nas águas, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
80.Pássaros todos do céu, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
81.Animais e rebanhos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
82.E vós, homens, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
83.Que Israel bendiga o Senhor, e o louve e o exalte eternamente!
84.Sacerdotes, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
85.Vós que estais a serviço do templo, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
86.Espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
87.Santos e humildes de coração, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!
88.Ananias, Azarias e Misael, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente, porque ele nos livrou da permanência nas trevas, salvou-nos da mão da morte; tirou-nos da fornalha ardente, e arrancou-nos do meio das chamas.
89.Glorificai o Senhor porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia.
90.Homens piedosos, bendizei o Senhor, Deus dos deuses, louvai-o, glorificai-o, porque é eterna a sua misericórdia! (Fonte: Bíblia Ave-Maria)

Os ambrosianos, são os hinos de cada hora canônica; antigamente os salmos eram recitados antes dos hinos de cada hora. Hoje esta ordem é inversa. Eles tem o nome de “ambrosiano” pois recordam Santo Ambrósio que compôs grande número deles para o ofício divino; nos cânticos evangélicos temos o “Benedictus” que é o cântico de Zacarias ao reconhecer a grandiosidade do poder de Deus, recitado nas laudes; em vésperas temos o cântico do “Magnificat” da Virgem Maria exaltando as maravilhas e os prodígios de Deus nosso Senhor. A litania seria a ladainha, a invocação do Kirie Eleison, Christie Eleison clamando a misericórdia e o perdão de Deus que é derramado sobre nós. Vamos seguir adiante falando um pouco sobre o Capítulo 13:

CAPÍTULO 13 - Como serão realizadas as matinas em dia comum
(Comunidade Monástica de Pouso Alegre-MG)
[1] Nos dias comuns, porém, a solenidade das Matinas seja assim realizada, [2] a saber: recita-se o salmo sexagésimo sexto sem antífona, um tanto lentamente, como no domingo, de modo que todos cheguem para o quinquagésimo, o qual deve ser recitado com antífona. [3] Depois desse, recitem-se outros dois salmos, segundo o costume, isto é, [4] segunda-feira, o quinto e o trigésimo quinto; [5] terça-feira, o quadragésimo segundo e o quinquagésimo sexto; [6] quarta-feira, o sexagésimo terceiro e o sexagésimo quarto; [7] quinta-feira, o octogésimo sétimo e o octogésimo nono; [8] sexta-feira, o septuagésimo quinto e o nonagésimo primeiro; [9]sábado, o centésimo quadragésimo segundo e o cântico do Deuteronômio, que deve ser dividido em dois "Gloria". [10]Nos outros dias, diga-se um cântico dos Profetas, um para cada dia, como canta a Igreja Romana. [11] A esses seguem-se os "Laudate", depois uma lição do Apóstolo recitada de memória, o responsório, o ambrosiano, o versículo, o cântico do Evangelho, a litania, e está completo.
[12] Não termine, de forma alguma, o ofício da manhã ou da tarde sem que o superior diga, em último lugar, por inteiro e de modo que todos ouçam, a oração dominical, por causa dos espinhos de escândalos que costumam surgir, [13] de maneira que, interpelados os irmãos pela promessa da própria oração que estão rezando: "perdoai-nos assim como nós perdoamos", se preservem de tais vícios. [14] Nos demais ofícios diga-se a última parte dessa oração, de modo a ser respondido por todos: "Mas livrai-nos do mal".

Ao encerrarmos nossa reflexão deste mês, detenhamo-nos neste capítulo com características particulares. Aqui notamos que São Bento escreve, pedindo que o salmo 66 seja dito um tanto quanto lentamente até o salmo 50 para que toda a comunidade monástica possa chegar a tempo para o louvor divino. Destaca-se aqui a humanidade e a piedade do Santo Legislador para com os seus co-irmãos de modo que todo atraso e imprevisto para o ofício divino não sejam desculpas para que o mesmo não seja bem realizado por todos. A partir daí, São Bento escala 2 salmos para cada dia da semana mais um cântico dos profetas sempre unido à Santa Igreja de Roma. Chama-nos a atenção o versículo 13, no qual São Bento alerta a todos sobre a caridade fraterna, o mútuo perdão e a paz na comunidade monástica que não deve ser foco de escândalos por parte de nenhum de seus membros. Ressalta que, apesar de todos virmos de lugares e de famílias diferentes, com educação e formação distintas, devemos permanecer na paz, sem rancor ódio ou ressentimento. Muito pelo contrário; a comunidade monástica de São Bento deverá viver norteada pelo perdão e pela caridade fraternas. Ele lembra que devemos pensar sempre na promessa da oração que recitamos, o Pai-Nosso. O ato de respondermos todos juntos “Mas livrai-nos do mal”, leva-nos muito mais além do q1ue pensamos. Reflete o perdão e a reconciliação mútuas. Ao passo que presto atenção nas palavras que falo, condiciono a minha mente para que ele ore juntamente com todo o meu ser. Assim, palavras, mente e coração juntos na oração farão com quê eu tenha condições de não simplesmente ‘balbuciar’ a Palavra de Deus, mas vivê-la de forma concreta em minha vida.

CAPÍTULO 14 - Como serão celebradas as Vigílias nos natalícios dos Santos
[1] Nas festas dos Santos e em todas as solenidades, proceda-se do mesmo modo que indicamos para o domingo [2]exceto que, quanto aos salmos, antífonas e lições, sejam ditos os que pertencem à própria festa; mantenha-se, porém, a mesma disposição acima descrita.

O capítulo 14 não trará grandes novidades ao código litúrgico, só reforçará que nas vigílias dos natalícios dos santos, a comunidade monástica proceda com o mesmo fervor, fé e disciplina no ofício divino assim como é realizado nos domingos, ou seja, na páscoa semanal do mosteiro.
Ir. Fátima destacou que, no momento oportuno poderemos também fazer um pequeno estudo e reflexão sobre o calendário litúrgico de cada ano, com suas memórias, festas e solenidades.
Até nosso próximo encontro, se Deus assim nos permitir, onde se realizará o retiro anual dos oblatos do Mosteiro de São João nos dias 14 e 15 de maio, p.f.